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21 setembro 2018

aquele que eu me tornei a monica geller

Ao que pode ser lido no repertório dos meus textos melodramáticos nos últimos tempos (e a muito além deles), eu estava com a pá na mão, cavando um pocinho fundo para me soterrar. Culpemos a poesia que corre nas minhas veias e que faz tudo, pela minha ótica, ser visto como num livro comovente de seiscentas páginas da livraria. Literalmente narrando o cotidiano na minha cabeça como se estivesse lendo os versos de um escritor famoso.

Um dia desses, conquanto, acordei. Vislumbrei o meu quarto e constatei que já não era mais meu, tornara-se o lugar que eu dormia (e nem sempre, porque, meu deus, como eu amo escapar no meio da noite para a cama de minha mãe), e isso me sufocava. Bom, pouparia-nos muito tempo se eu fizesse uma lista do que não me sufocava, mas não é esse o ponto. Sem nem ao menos ponderar a respeito conscientemente, eu decidi, nos confins da minha subconsciência, que estava farta de reclamar sobre a ordem das coisas e que era hora de partir para a fase dezessete (posterior à negação, procrastinação, enrolação e muitos outros ãos): agir.


Comecei de pouquinho em pouquinho, sem pressa, sem afoite para não esgotar de uma vez a inspiração que movia-me e deixá-la ir embora antes mesmo de transformá-la num hábito. Arrumei todo meu guarda roupa no primeiro dia e, a satisfação ao ver as roupinhas no lugar e poder abrir toda a porta sem ter que aparar as peças caindo pelo chão, impregnou-me. No segundo dia, eu queria mais desse hormônio que me faz sentir que não estou esperdiçando meu tempo (como eu fiz pelos últimos quatro anos); portanto, na manhã seguinte (e note, eu não sabia o que era dormir antes das três e acordar antes do meio dia há pelo menos... UM BOM TEMPO), lá estava eu, arrumando meu criado mudo, minha cômoda, minhas gavetas da bagunça (aquelas que você joga tudo o que não tem outro lugar para colocar)... e, em três dias, já não havia mais o que arrumar. Pela primeira vez, em todos esses anos de procrastinação, meu quarto parecia saído de um catálogo brega dos anos dois noventa e todas as coisas estavam em seus devidos lugares.

Eu fiquei tão empolgada que decidi transformar a casa inteira. Não que ela tenha cinco quartos e três salas (uma para jantar, uma para ver tv e outra para "estar"), para falar a verdade, só tem uma, além de dois quartos, um banheiro e uma cozinha. Percebi que queria me sentir em qualquer lugar da minha casa como me sinto no meu quarto (atualmente). Descobri também, no meio dessa aventura, que faxina é minha catarse - além de escrever, of course - e que a ansiedade sai para passear quando eu estou concentrada apenas em arrumar e limpar. Pergunto-me porque não comecei isso antes, embora saiba, seguramente, que as coisas acontecem exatamente quando devem acontecer (meu mantra esquisito).

Encontro-me agora na missão de desbravar as centenas de buracos de minhoca espalhados pelos cantos, empilhados em potes de biscoito do natal e quilos infinitos de papeis que já não servem mais para nada. Confesso que jogar coisas fora está me dando um prazer quase sexual (hipérbole é meu nome do meio), a sensação de livrar-me de coisas inuteis e sentir que estou jogando fora energia velha, é mágica.

Aparentemente, me tornei a Monica Geller.


Este, definitivamente, deve ser o maior texto que eu já escrevi para o Café e acabei nem postando lá.

O caminhão da mudança está passando e só vai deixar o que é bom.
(porque eu sempre tenho que terminar meus textos com uma frase de efeito que raramente funciona)

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