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01 outubro 2018

aquele da viagem que eu queria não ter feito

quando eu falo viagem, não imagine carros, aviões ou um longo cruzeiro pela europa. eu estou falando de viajar por dentro da sua própria consciência - ou do que restou dela - entorpecida por alucinógenos, de encarar seus demônios e todo o peso da sua existência sem nenhuma válvula de escape. eu to falando de uma panela de pressão prestes a explodir.


eu estive presa, quase literalmente presa, ao meu próprio desespero. eu não podia fechar os olhos, eu não podia esconder-me no abraço de minha mãe, eu não podia chorar e eu não podia pensar claramente. eu estava indefesa ao iminente ataque do coração que certamente viria a qualquer momento. eu podia sentir meu coração arder dentro da minha caixa toráxica, minha respiração definhar e minha mente mergulhar cada vez mais numa espiral de alucinações.

eu não faço ideia de porque drogas são tão glamourizadas na televisão, na internet e na mídia num geral. os adolescentes mais legais nos seriados são sempre chapadões, festeiros e amantes de sexo casual. essa é a referência que a gente tem, é o ideal que a gente persegue. não to dizendo todo mundo, claro que não, entretanto, entenda que generalizações são necessárias quando se trata de certos assuntos. estou falando da cultura pop drogada enraizada nas gerações mais atuais. os heróis da dessa juventude morreram de overdose, e isso é tratado com gloriosidade.

eu sempre fui muito influenciável e impressionável, eu acho. completamente. se eu leio um livro muito intenso ou vejo um filme muito emocionante (no sentido da palavra "que causa emoção"), aquilo martela na minha cabeça por dias, mexe com meu sono, meus sonhos e minhas decisões. é ridículo e essa foi uma das coisas que foram plantadas aqui dentro (de mim), eu queria ser legal, diferente.


eu fiz escolhas ruins, por toda a minha vida eu tinha duas ou centenas de alternativas e sempre escolhi errado. eu fiz maus amigos, descuidei de lindas amizades e floresci ervas daninhas. isolei-me na minha caixa de más decisões. esta noite, em questão, foi a pior delas.

eu nunca estive tão frente a frente comigo mesma e jamais odiei tanto essa versão que me tornei. nem nos meus sonhos mais loucos, minha realidade fora tão distorcida. eu não sei se foi só uma bad trip, castigo dos deuses, uma lição dos meus guias espirituais ou uma forte reação química ao meu psicológico esquizofrênico fragilizado; mas eu não quero passar por isso nunca mais.


e é só quando você está no maldito fundo do poço (outra vez), na epifania do cruel exílio, que você sabe quem não vale nem um minuto da sua companhia e a quem você deve sua vida.

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