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02 setembro 2021

aquele que eu pensei que ia morrer

Três vezes na vida eu pensei que iria morrer. Em todas elas carregava a plena convicção de que sairia até nos jornais "ela sabia, ela vinha sentido isso há algum tempo, foi como uma despedida", como fazem com algumas pessoas importantes. E em todas elas estive errada. A última, por nenhum acaso, foi uma gripe, pegou-me de jeito e atirou-me na cama como um amante. Tudo que se fala em todos os lugares, qualquer portal de notícia e jornais que se lê, são as manchetes reforçando a letalidade daquele vírus maldito. Não poderia eu sair imune da minha própria paranoia.


À caminho do hospital, observando a paisagem do outro lado da janela aberta, deixava as memórias de toda a minha vida navegarem pela minha mente, as histórias que contariam sobre mim nos encontros entre amigos e família. Imortal, definitivamente. De forma alguma seria esquecível, pretenciosa ou não, acredito ser legendária como Van Gogh, talvez até meus textos ficassem mais famosos quando póstumos.

Estava mal, derrotada. Me sentia fraca e melancólica. Eu odeio ficar doente e odeio mais ainda hospitais. Pensei que se quando saísse dessa seria uma nova mulher. Ora, mais nenhum dos meus planos passariam batido. E eu tenho tantos! "Procrastinar" já não existiria no meu dicionário. Escreveria todos os textos que deixei para depois, pegaria a inspiração pelos braços e a enfiaria goela abaixo da minha garganta recém-curada. O impulso irrefreável de reviver depois do que pareceu ser o fim.


Tudo que não é essencial fica pequeno — pelo menos nos primeiros dias. A vontade de mudar o mundo, comer saudável, entrar na academia, enviar mensagem para todos os amigos que estão sem contato há muito tempo, dizer o que nunca foi dito, trocar o emprego e mudar para o campo (ou para uma mansão). Ah, e no prazo de dois dias, por favor, antes que a motivação se esvaia novamente.

Sobrevivi, afinal este não é um texto psicografado. Escrevo-o com minhas mãozinhas e uma mente que não dorme, sonâmbula de sonhos. Costumava detestar essa característica, que faz a fantasia se misturar com a realidade nos floreios dos meus olhos. Pois que seja assim! Minha história narrada na biografia ultrarromântica e onírica dessa poesia que me faço ser.

Um passo de cada vez, então.
A meta atual é não mais morrer em vida.

(o resto eu consquisto)

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